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José Daniel da Silva
Nossa cidade tem o privilégio de ser uma das mais cantadas do Brasil,
talvez, até mesmo do mundo! Em diversos ritmos, sua história, sua gente,
sua produção artística, vários dos seus elementos são cantados, ajudando
Caruaru a ser uma cidade bastante conhecida em todo o país. Musa
inspiradora, canções a seu respeito, formas interpretadas nas vozes de
forrozeiros, cantores de frevo, de rock, de MPB, etc. A música, neste
sentido, termina por se constituir de um lugar de discurso, de narrativa,
de criação de um cenário identitário. São João, forró, feira livre,
Vitalino, Alto do Moura, tudo isso é ouvido nas letras que falam da
terrinha.
A primeira música nacionalmente conhecida tratando da cidade, segundo as
pesquisas, foi "Caruaru", de Belmiro Barrela, gravada
inicialmente por Cauby Peixoto: "Foi num belo dia de verão / Que
eu perdi meu coração / Foi numa cidade do Sertão / Que guardo na recordação
/ Caruaru, Caruaru / A princesinha do norte és tu." Evidentemente que
Caruaru já era tema para artistas locais, já era mote para repentistas,
mas, com esta canção, começou a abrir espaços.
Em 1957, veio o reconhecimento maior com "Feira de Caruaru"
(Onildo Almeida) e "Caruaru - Capital do Agreste" (O.
Almeida/Nelson Barbalho), ambas gravadas por Luiz Gonzaga. Dois anos antes,
Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro já haviam gravado músicas sobre festas
em Caruaru. Na década seguinte, Ludugero foi um grande divulgador de
Caruaru. Entretanto, a massificação de Caruaru como tema musical se deu nos
anos 70 e 80, em grande medida ligada à vinda de diversos forrozeiros para
a cidade e pela divulgação de suas obras nas rádios caruaruenses (Cultura,
Difusora e Liberdade).
Todo mundo passou a cantar Caruaru: Azulão, Jacinto Silva, Jorge de
Altinho, Petrúcio Amorim, Alceu Valença, Elba Ramalho, Geraldo Azevedo,
bandas de pífanos (dos Bianos, Biu do Pife, João do Pife), Elifas Jr.,
Lulica, etc. Lembram deles? Lembram de suas músicas? Qual outra cidade tem
tanto dito e cantado sobre si? O forró passou a ser o rosto musical de Caruaru,
ainda hoje sendo famoso o seu período junino e suas manifestações
artístico-culturais.
Como um de seus maiores expoentes, a música caruaruense tem ultrapassando
fronteiras, sejam nacionais ou internacionais. Contudo, Caruaru é cantada
não apenas por quem vive nela, mas também por diversas pessoas de fora,
uns, estrangeiros na cidade, outros, admiradores da mesma.
Atualmente, muitos artistas continuam cantando Caruaru, em boa medida os
artistas da própria terra. Além dos cantores de rock e MPB, são vários os
trios de forró falando do município. É importante, neste sentido, que se
firmem espaços para divulgação dessas músicas, pois, além de continuarem
mostrando a cidade para outras regiões, elas fazem parte de um conjunto
maior, de uma obra que se criou e se identificou como a "cultura
caruaruense", marcadamente o nosso propagado forró.
José Daniel da Silva
é pesquisador e professor de História
Jornal vanguarda – Notícias - Opinião
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31/03/2012
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Uma
vaca no telhado
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Algumas
vezes, nos filmes, vacas aparecem em cenas especiais para chamar nossa
atenção. Morri de rir com uma sátira, cujo nome agora não recordo, em que
dois atrapalhados espiões, disfarçados de vaca leiteira, preta e branca e com
tetas rosadas enormes, invadem um curral e um bezerrinho, de verdade,
faminto, ao ver aquela estranha criatura, pensando ser sua mãe, vem correndo,
mugindo, querendo mamar. Hilário! No cine catástrofe, Twister, após uma
tempestade, uma vaca voa por conta de um terrível tornado. Assustador! No
último filme do diretor argentino Sebastian Borensztein, a deliciosa comédia
"Um Conto Chinês", logo na primeira cena, uma vaca cai do céu, em
cima de um barquinho, parado no meio de um lago, onde um casal apaixonado
troca juras de amor. Inesperado! E por aí vai...
Enquanto
na ficção vacas surgem em situações inusitadas, fruto da imaginação de
criativos diretores e roteiristas, no "País de Caruaru", há
décadas, sem ser ficção, uma vaca subiu num telhado. Inacreditável! Na época,
o inédito fato foi registrado e divulgado na imprensa pelo correspondente do
Diário de Pernambuco na Capital do Agreste, o ilustre jornalista caruaruense
Antônio Miranda. Ele documentou a ocorrência, publicando a matéria:
"Vaca, em Caruaru, subiu no telhado de fábrica e dançou xaxado", na
edição de 29 de janeiro de 1969.
Na reportagem, ele narra, com detalhes, o
caso de uma vaca holandesa que no final da manhã do dia 26 subiu no telhado
de uma fábrica de camas, situada próximo ao centro da cidade. Miranda relata,
inclusive, que durante o "espetáculo", a "dançarina"
percorreu quase 20 metros, quebrando mais de 200 telhas. Um fuzuê danado! O
dono da fábrica chamou a polícia que, com muito sacrifício e mais telhas
quebradas, depois de amarrar a ruminante, conseguiu retirá-la daquela altura.
Engraçado foi a coitada ter sido levada "presa" e seu dono intimado
a pagar o prejuízo causado pela sua inusitada "façanha". Após ser
solta, ela voltou a pastar, livremente, pelas ruas da cidade. Essa notícia
repercutiu por todo o Brasil e até no exterior, tendo sido comentada nos
Estados Unidos e na Inglaterra.
Para os
que não conheciam essa história, incrédulos, devem estar perguntando: como a
vaca subiu no telhado? Na Capital do Agreste, foi simples: o prédio da citada
fábrica era vizinho a um terreno baldio onde todos jogavam lixo. Com o tempo,
formou-se uma enorme montanha de detritos, encostada na parede da parte
detrás da construção. A pobre vaquinha, com fome, foi pastando, pastando e
escalando o monturo. Quando chegou ao topo, continuou procurando comida nas
telhas. Devido à irregularidade do "terreno", tentando se
equilibrar e sair daquele inóspito local, agoniada, ela se mexia para
encontrar uma saída. Na frente da fábrica, do outro lado da rua, as pessoas
que assistiam a cena, tinham a impressão de que a vaca dançava. Entre os
espectadores, alguém deu um mote: "Vaca dançando em telhado, só mesmo em
Caruaru". Outro, logo glosou: "Não sei se é samba ou xaxado, frevo
ou maracatu, mas vaca dançando em telhado, só mesmo em Caruaru".
Relembro
essa história em homenagem ao grande jornalista Antônio Miranda, que
completará 89 "cajus no costado" no dia 1º abril.
Valéria
Barbalho
(valeriageni@gmail.com)
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